sexta-feira, 2 de outubro de 2009

XXVII Domingo Comum B

Deixará pai e mãe, e os dois serão uma só carne (Mc 10,7)

São muito caros a Jesus a beleza e o valor da relação: com Deus e com os irmãos. Isto vale de modo particular no relacionamento de amor entre o homem e a mulher no matrimónio.
É uma visão estupenda, a que Jesus propõe no matrimónio: “os dois serão uma só coisa”. Uma comunhão de amor tal que os torna uma única existência. Uma comunhão de amor que não se apagará nem sequer com a morte. Porque o amor, sendo autêntico, é “para sempre”. E sobre a terra é um sinal do relacionamento de amor de Deus Trindade.
Consequentemente o amor entre um homem e uma mulher é fruto de uma vocação: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. É um chamamento estupendo a uma doação recíproca, até dar a vida cada um pelo outro. Não um amor fechado em si mesmo, mas aberto à vida de novas criaturas e aberto à comunidade. Um amor empenhado, por isso, deve ser continuamente renovado reciprocamente e alimentado por um relacionamento pessoal e comunitário, com Deus e com os irmãos.



“Como poderei descrever a felicidade de um casamento
celebrado em Igreja,
confirmado pela oferta,
celebrado pela bênção anunciada pelos anjos,
confirmado pelo Pai?

Que belo casal formam dois crentes
unidos numa única esperança,
num único ideal,
unidos pelo mesmo modo de viver
e pela mesma disponibilidade!

Ambos irmãos e servidores do mesmo Senhor,
sem nenhuma divisão na carne ou no espírito,
oram juntos, ajoelham-se juntos
e juntos partilham a mesma mesa.

Ensinam-se mutuamente,
exortam-se e apoiam-se um ao outro.

Estão juntos na sagrada celebração,
juntos na Ceia do Senhor,
juntos nas provações,
na perseguição e na alegria.

Não há nenhum perigo
que leve um a esconder-se do outro,
a evitarem-se, ou a que um seja perturbado pelo outro...

De boa vontade
visitam os doentes e ajudam os necessitados.
Dão esmolas com disponibilidade,
todos os dias cumprem infatigavelmente os seus deveres.

E não sabem que são como que sinais escondidos da Cruz!
Agradecem sem reservas e abençoam-se um ao outro.

Recitam salmos e hinos, alternadamente,
porfiam entre si para ver
quem melhor sabe cantar os louvores de Deus.

Vendo e ouvindo isto...
Cristo compraz-se e envia a sua Paz aos dois esposos.
Onde está um casal cristão, também está Cristo!

(TERTULIANO, Ad Uxorem, II,9 - autor do séc.II-III - Norte de África)